Microsoft compra Activision Blizzard por quase $70 bilhões

O mundo dos games acordou com uma notícia bombástica: a Microsoft anunciou a compra da ‘Activision Blizzard’, uma das maiores desenvolvedoras do mundo, e os valores são assustadores.

A notícia chega após um grande escândalo de má conduta sexual e discriminação na ‘Activision Blizzard’, a empresa por trás de grandes jogos como ‘Call of Duty‘ e ‘World of Warcraft’.

A informação da venda foi anunciada por múltiplos repórteres e confirmada pela Microsoft. Os valores são impressionantes: de acordo com a repórter do Bloomberg, Dina Bass, os valores se aproximam de US$ 70 bilhões de dólares. O valor exato seria a gigantesca quantia de US$ 68,7 bilhões.

A notícia foi inicialmente anunciada pelo repórter, também do Bloomberg, Jason Schreier, e confirmada por outros e pela própria Microsoft, que informa que a movimentação é para “para levar a alegria e a comunidade dos jogos a todos, em todos os dispositivos.”

Satya Nadella, chairman e CEO da Microsoft comentou a movimentação na nota publicada pela Microsoft: “Jogos são a categoria mais dinâmica e empolgante do entretenimento em todas as plataformas hoje, e desempenharão um papel fundamental no desenvolvimento de plataformas metaverso. Nós estamos investindo profundamente em conteúdos de primeira classe, comunidade e nuvem para inaugurar uma nova era de jogos que coloca jogadores e criadores em primeiro lugar, e torna os jogos seguros, inclusivos e acessíveis a todos”, comentou.

Microsoft adicionará uma gigante dos games, com grandes sucessos em todo o mundo. Divulgação/Microsoft

A princípio, Bobby Kotick continuará como CEO da Activision Blizzard, de acordo com a Microsoft, mas ainda não está claro se ele continuará na companhia após o fechamento da venda.

Após a transação ser efetivada, a Microsoft se tornará a terceira maior companhia de jogos quando o assunto é receita, atrás apenas da Tencent e da Sony.

É a maior aquisição da história da Microsoft. Até então, a maior compra era a da rede social LinkedIn, por US$ 26 bilhões (R$ 143,5 bi) em 2016.

Os recordes quebrados em poucos dias dão a tônica do dinamismo do setor de games, peça-chave em diversas tendências da tecnologia.

A Microsoft é ciente disso. Ao instalar o sistema operacional Windows, o usuário é convidado a experimentar o pacote Office, dos programas Word, Excel e Powerpoint. Em seguida, recebe oferta similar para testar o Game Pass, serviço de assinatura que funciona como um Netflix de jogos. É o carro-chefe da divisão Xbox, que também produz os consoles homônimos.

A Activision Blizzard deve inflar o catálogo do Game Pass, que hoje conta com 25 milhões de assinantes.

Com a compra da Bethesda em 2020, por US$ 7,5 bilhões (R$ 41,4 bi), a Xbox fortaleceu a oferta de jogos de tiro em primeira pessoa. Somando a Activision, dona da série “Call of Duty” (“CoD”), o Xbox passa a ser a inescapável casa do gênero, um dos mais populares dos videogames.

Ironicamente, a Microsoft também se adona de Crash Bandicoot, que nos anos 1990 chegou a ser o mascote do PlayStation, da concorrente direta Sony.

Game Pass é importante, mas está longe de ser a única razão do negócio.

Dentro do portfólio da Activision estão os jogos da King, dona de títulos populares de smartphones, sendo “Candy Crush Saga” o mais conhecido. “CoD” usufruiu do conhecimento técnico da King para chegar aos celulares. Lançado em 2019, “Call of Duty: Mobile” é assíduo frequentador das listas de mais baixados e jogados.

Isso tem sinergia com o esforço da Microsoft em fazer o Game Pass uma oferta atraente não só para consoles e computadores. Hoje centenas de títulos, muitos deles de última geração, podem ser usufruídos mesmo em celulares econômicos em razão da tecnologia de nuvem.

Com esse arranjo, os jogos rodam por streaming. É similar ao que acontece nos vídeos. Porém, streaming de games pede conexões mais rápidas, pois é necessário o envio de comandos a um servidor distante. A chegada do 5G deve popularizar ainda mais essa tecnologia, que na prática aposenta a necessidade de hardwares de ponta.

Outro aspecto estratégico é o metaverso. Palavrinha do momento do mundo da tecnologia, na prática significa uma vivência de realidade virtual, com as pessoas agindo por meio de avatares tridimensionais. A aposta é que reuniões de trabalho, desfiles de moda ou confraternizações familiares possam ser transpostas para o metaverso.

Um game que já preenche vários requisitos de um metaverso é “World of Warcraft”, também do portfólio da Activision Blizzard. Nesse título, diversos jogadores interagem ao mesmo tempo em um universo de fantasia medieval. Foi lançado em 2004 e, desde então, recebe atualizações. Levando em conta a vida curta que os jogos de videogame costumam ter, “WOW” é um dinossauro vivo.

Embora seja um recorde, a compra da Activision vem em um momento de baixa da empresa. O ano passado foi marcado por inúmeras denúncias de um ambiente de trabalho tóxico, com abusos e misoginia. O escândalo envolve até o topo da hierarquia da companhia. Segundo o Wall Street Journal, Bobby Kotick, o presidente-executivo da Activision Blizzard, era ciente dos casos.

A série de escândalos deflagrou protestos dos jogadores, greves dos funcionários e manifestações de empresas parceiras.

Phil Spencer, presidente-executivo da divisão de jogos da Microsoft, chegou a declarar que estava reavaliando as relações com a Activision em novembro do ano passado. Spencer será, na prática, o novo chefe da Activision caso o acordo se concretize.

O texto oficial da Microsoft diz que Kotick será mantido no cargo enquanto o acordo é avaliado pelos órgãos competentes. A construção das frases deixa ambíguo o futuro do executivo.

Ao fazer uma das maiores apostas no futuro dos videogames, a Microsoft terá de enfrentar os erros que colocaram em xeque a Activision Blizzard.

Origem: Olhar Digital